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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Jogatinas telefônicas

Corria o ano de 1991, mais precisamente o final do ano. O Master System ainda estava no auge e a Tectoy acabava de lançar uma de suas maiores proezas em terras tupiniquins: o primeiro jogo da série Phantasy Star, o RPG mais famoso do 8 bits da Sega, e ainda por cima o primeiro legendado em português.


Foi aquele barulho no mercado gamístico, e eu, que estava ligadão nas novidades, como um bom leitor de revistas especializadas da época, tinha acabado de ver na VideoGame nº 7 sobre esse lançamento que ia abalar (pelo menos o meu) mundo.


Não demorou muito para que eu corresse para locadora, tentando garantir para alugar. E consegui. Lembro que deixei reservado para o segundo sábado, já que o primeiro já tinha dono e contava os dias para pegar o tão sonhado cartucho.

A primeira vez
Em uma palavra? Frustrante.
Coloquei o cartucho e liguei o console, esperando um mundo de fantasias e emoções pulando freneticamente pela telinha. Assisti toda a introdução em português de olhos arregalados. A história prometia: Alis era a heroína (o que me impressionou de cara, pois uma mulher fazendo o papel do mocinho era um tanto inovador) e seu irmão, após morrer na sua frente, a encarregava de salvar o mundo das mãos do tirano Lassic. Até então estava babando, esperando o início da pancadaria.



Então o jogo começou e eu fiquei tentando entender o que aquela bonequinha com um graveto na mão fazia ali em frente de uma cabaninha laranja e uma estradinha vagabunda. Essa não era a imagem dos monstros malucos que eu tinha visto. Cacete, pensei... peguei o jogo errado??? Mas tava em português, que eu soubesse não tinha outro jogo assim na época.



Respirei fundo e resolvi dar uma chance praquela merda pro jogo. Entrei na cabaninha e lá dizia que era a casa da Alis. Bom, bacana isso, tinha uma casinha própria... mas então um calafrio me percorreu a espinha. Lembro claramente de fazer a ligação: Mulher protagonista > Casinha própria > Musiquinha bonitinha > Jogo colorido > Gatinho de mascote. Essa porra é o jogo da Barbie mano!!!! Fodeu. Desliguei o console e chutei a revista. Que dinheiro jogado no lixo, podia ter alugado Shinobi de novo ou Black Belt.

Alis e Myau no reino encantado? Oh fuck!

"Myau, tão de sacanagem com a gente!!!"

Devo ter ido almoçar depois disso, e só mais tarde liguei novamente o jogo pra ver se era aquilo mesmo. Então fui um pouco mais longe, vi um "robozinho" protegendo uma cabaninha amarela escrito "Exit". Véi, é pra lá que eu vou. Sai e fui andando até sair do vilarejo. Então de repente a tela escureceu e apareceu um monstro como os que vi na revista. Fiquei eufórico, agora sim! Agora sim! Agora não... aquele maldito mosquitão gigante me matou e eu tentando conversar com ele. Pra que servia aquilo? Aff. Desliguei de novo e desisti. Devolvi o cartucho e desencanei por umas par de semanas.




Uma nova esperança
Já tinha esquecido completamente do jogo e daquela nova modalidade chamada RPG. Um belo dia, estava eu jogando bola na rua do meu primo, quando numa dividida topei o dedão na guia e me machuquei legal.

Uma escultura do meu pé arregaçado. Ficou assim, rsrs

Resolvi sair do jogo e me sentei para assistir o resto da partida ao lado de um amigo do meu primo que não gostava de futebol. Conversamos um pouco e ele me disse que tinha comprado um tal jogo chamado Phantasy Star e que tava viciado. Eu meti a boca no jogo e disse que não prestava, então ele me convidou para ir ver ele jogar e me dar umas dicas. Fui e o que vi foi outro jogo completamente diferente. Ele me mostrou como funcionava um RPG e como salvar os jogos, as estratégias, as lutas e tudo mudou. Fiquei fascinado. Então resolvi dar ao jogo uma nova chance de me fazer feliz.

Passei a enxergar assim o jogo. Fantástico!


Recomeçando
Claro que aluguei o dito cujo novamente. E joguei muito, lutei, avancei, evolui e salvei meu jogo para poder devolver à locadora e poder alugar novamente na outra semana. Deixei reservado, mas só consegui pegar na terceira semana, dada a concorrência. E nem preciso dizer que me decepcionei novamente com o que vi né? Salvaram em cima do meu jogo. Que raiva. Eu, em minha ingenuidade, já com meus 11 anos de praia, não podia imaginar que iam passar por cima de tudo que conquistei. Mas sou brasileiro e não desisti, resolvi jogar do início novamente para zerar naquele fim de semana mesmo... aff. Zerar um RPG desses em 2 dias? Mas nem sonhando. Foi então que entendi o que o anúncio da revista queria dizer com "Este jogo tem 3 meses de duração". Jovem tolo.

Aquilo foi o que bastou pra bater o desespero. Como jogar esse jogo tranquilamente? Eu precisava comprar.
Mas não tinha dinheiro, não era natal, nem estava perto do meu aniversário para ganhar. O que fazer? Lembrei do amigo do meu primo, que nessas alturas já era meu amigo também e fui até a casa dele pedir emprestado o cartucho. Deixei um meu com ele e peguei o PS. Começava então a minha saga no tão badalado RPG do Master System.




Disque ajuda
Se você era adolescente nos anos 90, sabe que o terror de todo pai era o telefone. As taxas eram caríssimas e a molecada que pegava o fone já ouvia o grito "Não vai ficar pendurado hein, dá o recado e desliga!". Daí você começava um namoro, pegava o telefone escondido e ficava horas conversando. Depois, quando chegava a conta, na maior cara de pau fazia de conta que nem conhecia aquele número. Isso porque nem tinha celular e muito menos internet que iam encarecer ainda mais as contas. Enfim, muito antes de ligar pras namoradas, eu usava o telefone para outra finalidade... as jogatinas telefônicas.

"Desgruda desse telefone muleque!!!"

Sim, numa época em que não se podia recorrer as dicas encontradas no google, e quando as revistas não ajudavam o suficiente, a única alternativa era recorrer aos amigos que também jogavam os mesmos jogos que você. Então resolvi ligar para meu grande amigo de infância, o João Melão, um cara expert nos jogos do Master System e grande parça meu. Estudávamos juntos (na verdade, desde os 6 anos) e com certeza ia me ajuda naquela noite sombria em que eu não sabia o que fazer naquele estágio em que me encontrava (ainda em Palma) no Phantasy Star. E qual não foi minha surpresa quando liguei e ele estava jogando também o mesmo jogo que eu? Naquele mesmo momento, com um cartucho de um amigo dele emprestado.
Então a coisa mudou radicalmente. E vou explicar o porque: jogávamos on line.

Phantasy Star on line

Exatamente isso mesmo. Em pleno século passado, há duas décadas atrás, muito mesmo antes da internet sequer ser citada, antes dos computadores estarem presentes na grande maioria dos lares, eu e meu amigo jogamos Phantasy Star "on line".

Mas já existia essa porra opção na década de 90?

Não, seria mais ou menos isso, caso existisse.

Como? Simples, ele me falou onde estava do jogo, e por coincidência estávamos muito parecidos em experiência, itens e tudo o mais. Então passamos a jogar todos os dias juntos, pelo telefone. Cada um descrevendo o que estava fazendo para o outro acompanhar. Cada dia um ligava. O telefone sem fio passava desapercebido pelos nossos pais que não viam a gente conversando. Não preciso nem dizer o tamanho da conta que veio depois né? E se você me perguntar se valeu a pena, eu digo que não só valeu, como não teria feito diferente. Diversão dobrada. Uma pelo jogo, outra por jogar junto com outra pessoa. Tá, talvez eu contando não tenha tanta graça, mas pode acreditar foi uma época incrível e uma experiência ducaraio animal.
Alô Melão? Tem uma porta adiante, entra lá e me fala se morreu...

Certo, eu sei que hoje em dia você faz isso também, mas sem gastar com o telefone, joga on line com amigos e com pessoas que nunca viu antes, mas agora já virou carne de vaca, todo mundo faz. Legal mesmo era fazer quando ninguém fazia e sentir a adrenalina de quase ser pego pelo pai, torrando o dinheiro do véio, enquanto jogava com o pescoço segurando o telefone. Foda era o torcicolo...

22 comentários:

  1. Cara, eu tb jogava muito esse jogava e ligava pros meus amigos pra pegar dicas. Mas nunca pensei nessa alternativa de jogo "on line". Parabéns pela ideia, muito criativa pra época!
    Abraço. A propósito, parabéns pelo blog, vcs arrebentam!
    Awêi Baptista

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  2. Bela crônica. Inveja da tua experiência!
    Na época, só tive a oportunidade de jogar o Phantasy Star quando eu e um velho amigo trocávamos os consoles por duas semanas: ele ficava com meu Top Game e eu com o Master System dele. Nem preciso dizer que alugava montes de cartuchos pra aproveitar o videogame que não era meu... e um deles era o Phantasy Star.

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  3. Muito legal Léo. Também fiquei com inveja da sua experiência. E ri muito da sua frustração, jogo da Barbie? kkkkkkkk
    Parabésn pela história.

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  4. Aê Leo, belo post! Como é bom te ver de volta no blog, seus textos são show de bola! E curti muito esse esquema de Phantasy Star On Line rsrsrs

    Tenho uma história parecida, mas com o Ys. Quando aluguei, fiquei sem saber o que fazer e não conseguia sequer matar um inimigo. Aí devolvi o game e passei a espalhar aos quatro ventos que Ys era uma porcaria.

    Anos depois, com conhecimento na língua inglesa, resolvi encarar com um certo desdém o Ys IV para SNES, e qual não foi a minha surpresa ao perceber que aquele game era muito divertido? Zerei o game e resolvi salvar o original que eu havia xingado tanto, para depois me tornar um grande fã da franquia. Que ironia!

    Abração

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  5. Phantasy Star é excelente mesmo. pena que nunca achei essa versão em português para jogar. tive que zerar na versão gringa mesmo, mas fiquei fanzaço da série devido a minha jogatina e pretendo terminar os 4 games da saga principal nesse ano que se aproxima.

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  6. @Anônimo (Awêi Baptista)
    Valeu Awei! Continue acompanhando o blog, esse ano traremos muitas coisas novas e histórias veias, rs. Abração.

    @alforje
    Obrigado! Esse lance de trocar consoles era bem legal, eu troquei meu querido Master por um Phanton System com um velho amigo por um tempo tb. Foi uma experiência bem bacana, tive a oportunidade de jogar muito Mario 3, Megaman 3, Contra, Tartarugas Ninjas e Yo Noid. Mas não via a hora de pegar meu Master System de volta, era apaixonado por ele, rs

    @Carl, the killer
    Valeu meu amigo. Abraço!

    @Adinan A.
    Poxa, valeu mesmo Adinan, considerando que acho os teus posts os melhores, fico realmente lisonjeado com o elogio! Cara, exatamente isso, eu não entendia nada de RPG (e olha que era em português o PS) e ao invés de tentar entender sai difamando o jogo. Depois virei fã.
    Ys também foi um sufoco pra pegar o jeitão no começo, principalmente por ser inglês, devo admitir que no começo também falei mal e depois gostei muito, mas fui voltar a jogar bastante mesmo no emulador anos depois. Abração!

    @Leandro" Leon Belmont" Alves the devil summoner
    Como assim nunca achou essa versão em português? Era o que mais tinha por aqui, rs. Bom terminar os 4 vai levar um tempo considerável, talvez mais do que só o ano que vem. Abraço!

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  7. > Lembro claramente de fazer a ligação: Mulher protagonista > Casinha própria > Musiquinha bonitinha > Jogo colorido > Gatinho de mascote. Essa porra é o jogo da Barbie mano!!!!

    Nossa, essa foi a coisa mais hilária que já ouvi na minha vida sobre Phantasy Star! ^_^

    Rapaz, que máximo esse lance de jogar online, rs... muito, muito legal o seu relato, adorei!

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  8. Putz Leo, coincidência você estar postando isso agora! Eu e meu amigo começamos algo parecido justamente essa semana!

    Estamos jogando Ratchet Deadlocked, de PS2, com o Skype ligado, e vamos conversando enquanto jogamos! Agora só jogamos o jogo juntos, para progredirmos juntos, e tudo mais.

    Cara, que baita coincidência você postar sobre isso agora! xD

    Abraço!

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  9. Mulher protagonista > Casinha própria > Musiquinha bonitinha > Jogo colorido > Gatinho de mascote. Essa porra é o jogo da Barbie mano!!!! Fodeu
    UHAUHAUHAUAHUHAUHAUHAUHAUAHU... top post, muito foda a história!!

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  10. Hahahahaha!!! Obrigado por me relembrar esses velhos tempos!! HAHAHAHA, lembro bem do meu pai descontando a conta dos telefonemas pro Leo da minha mesada!! Pra quem não sabe, o amigo dele pra quem o Leo telefonava (o João Melão) era eu...HAHAHA! Legal demais esse post! Demais!

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  11. @Orakio "O Gagá" Rob
    haha, valeu Gagá!

    @Willi JRCW
    Cara, que legal. Eu achei que hoje em dia ninguem mais faria isso, mas é bem divertido, heheh. Abração.

    @Guilherme
    huahauhauhua valeu cara!

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  12. @João Marinho
    Ae Melão!!! hahaha verdade cara, sem mesada e com a orelha quente de ouvir sermão!!! Valeu meu amigo, abração!!!

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  13. Ouvi muito isso tambem: "Não vai ficar pendurado hein, dá o recado e desliga!"
    tempos bons que nao voltam nunca mais!!
    Muito legal sua história. E o blog.

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  14. Ri muito da foto do dedão! hahahaha
    Aconteceu algo similar com meu primo com o lance de detestar o Phantasy Star na primeira jogada, mas depois que aprendeu a jogar, se apaixonou pelo jogo.
    Agora essa modalidade online de vcs pra mim foi uma novidade! O máximo de PS e telefone que eu tive na vida era quando me ligavam pra perguntar o que tinha que fazer, pois eu decorei logo cedo o jogo todo. :)
    Muito bom o post.

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  15. @gamercaduco
    hahaha, a foto ilustrou perfeitamente!
    Cara, acho que Phantasy Star desperta isso mesmo nas pessoas, primeira vez um ódio de não entender nada, depois paixão.
    Valeu!
    Abração!

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  16. Um jogo que nunca consegui entender foi este Phantasy Star Online,acho que faltou um opouco de paciência em relaçao o game,e acabei abandonando ele!

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  17. Caracaaaa... Acho então q todo mundo q jogou Phantasy Star teve experiências parecidas... Comigo foi assim tb, e ainda tinha mais um detalhe: Depois de muitas locações e freustrações por sobrescreverem o jogo, num lindo natal de 1992, eu ganhei o jogo.
    Aí virou vício.
    Além do Phantasy Star Online, comigo tinha o Phantasy Star Multiplayer, quando chegamos a reunir em minha casa 8 pessoas para jogar... cada um enfrentava um pedaço do game... Eu, Reinaldo e Marquinhos jogando e os outros 5 que não entendiam muito a gente colocava eles para lutar contra os monstros para ganhar experiências e Mesetas (Malditos Landrover, Cavador de Gelo e Armadura de Diamante que custavam respectivamente 5 mil, 12 mil e 15 mil mesetas)...
    Saudades daquela época.

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    1. Fala Mateus! Cara, que legal saber que mais pessoas tiveram essa experiência fantástica!
      E mais legal ainda saber dessa variação: Phantasy Star Multiplayer!!!! hahaha, show de bola.
      Recentemente ganhei o cartucho e estou fazendo um diario de bordo da aventura, se quiser acompanhar clica no link:
      http://qgmaster.blogspot.com/2012/01/diario-de-bordo-phantasy-star-parte-1.html
      Abração!

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  18. Véio, Li esse post bastante tempo mas só agora tô comentando!

    Mulher protagonista > Casinha própria > Musiquinha bonitinha > Jogo colorido > Gatinho de mascote. Essa porra é o jogo da Barbie mano!!!! Fodeu.
    Eu pensei isso mesmo quando comecei, achava maneiro jogar com mulher, mas o game tava meio "cor-de-rosa" mesmo no inicio. Estava iniciando minha vida RPGistica e só quando sai da cidade vi que tinha ação! hauahauah.
    Fiz besteiras do tipo conversar com o Vampiro! hauahau
    E quanto às jogatinas me lembra muito a adolescencia, telefonava escondido pro meu velho amigo e minha paixão secreta pra falar de games e RPGs de madrugada. Era gostoso! rsss
    Abração!

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    1. Eu varava Phantasy Star de madrugada nos fds. Aí me ligavam, mas não chegou a ser um "online"... rs

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    2. hahah cara, Phantasy Star consomia as madrugadas e os dias inteiros, o jogo bom e demorado. O legal dos "onlines" é que descobria mais coisas, pois é aquele velho ditado: duas cabeças pensam melhor do que uma... hehehehe

      abraçao

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