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sexta-feira, 4 de maio de 2012

Lugar de Mulher é com o Joystick!

[Edit 2018: este post quando foi escrito, refletia as ideias de uma época, nossa adolescência nos anos 90, e foi escrito no inicio da década, em 2012. Hoje muitas ideias nós mesmos já revemos, mas preferimos deixar o texto inalterado. Que continue o retrato de uma época]

Oi, a todos. Este post me surgiu com uma idéia que minha digníssima se queixava: a maior chuva lá fora, eu e o Pedro jogando o SMS, e ela entediada, olhou a tela e me perguntou:

- Não tem nenhum jogo pra menina, não?

A pergunta é: Jogo pra menina ou jogo com menina?

Bem, foi interessante. Eu não lembrei de NENHUM jogo de Master que poderia ser  do agrado dela. Ela só jogava na Net o buraco com uns amigos e o Pac Man. Meu lado sociólogo despertou para uma questão que nenhum cientista social estaria preocupado: Por que videogame os meninos quase sempre gostam e as meninas nem sempre?

Talvez a primeira explicação seja a mesma que até pouco tempo, tínhamos poucas mulheres motoristas: Carros e Games foram construídos por homens, obedecendo reflexos e noções espaciais de homens, então só as moças mais "ninjas" (com uma infancia de brincadeiras dinâmicas) se sentiam na empolgação de acompanhar seu irmãozinho que ganhou um game naquele Natal. 

Afinal, videogames reproduzem desde cedo um imaginário que o povo cor-de-rosa nem chegava perto há algumas décadas: espadas, monstros, tiroteio. As moças que apareciam nos games eram apenas as donzelas em perigo, prontas pra serem salvas por um encanador bigodudo ou um brutamontes musculoso. O Double Dragon, um jogo de luta pioneiro, é o maior exemplo. As duas minas do game, uma é a raptada (o motivo dos quebra-paus) outra é uma vilã feia de doer (e se chamava "Linda")! 

Lúcia de "Psychic World": Uma personagem fofinha,
mas que de donzela não tem nada!

O Master pegou aquela fase de transição chamada anos 90. As moças topavam ver filmes do Schwaznegger desde que eles topassem ir ver os do Leonardo DiCaprio! (que péssimo negócio, na época!) Os X-men que estrearam na TV cativavam tanto garotos quanto garotas, em resumo, neste momento, os papéis se misturavam. 

Junto com isso, o videogame mudou. O único game que parece ter sido específico pro público feminino foi o Ariel: The Little Mermaid (Pequena Sereia), ainda não tava na moda vender as princesas da Disney em bloco. Era um game simples, mas para agradar boys, também você podia jogar com o Triton. No Mega Drive, havia um Beast and Beatiful (Bela e a Fera) com o mesmo sistema: Para cuecas você jogava um action com a Fera, para as moças, um adventure com Bela.


Minha maninha quando jogou o SMS na primeira vez!

Lembro que minha irmã se interessava às vezes pelos jogos do Master. Mas tinha apenas dois tipos fundamentais de jogo. Um era jogo colorido, até mesmo fofo, como os da Disney. Lembro que minha irmã varou uma madrugada comigo quando aluguei o Castle of Ilusion. Lembro de como a criatura cantarolava a musiquinha, dizendo que era viciante. Outro era meio contraditório: Tinha que ter protagonista mulher, mesmo que fosse um estilo que ela não curtia. Por exemplo, Streets of Rage: ela adorava o jogo apenas porque tinha a Blaze! Alugamos um final de semana, e por ela, tínhamos que zerar com Blaze!


O bicho pegou foi quando ela resolveu jogar o Mortal Kombat. Adivinha por quê? Por que tínhamos a Sonya! Era até divertido, porque ela não entendia as manhas de um jogo de luta. Mas, arriscava, ia fundo. A personagem feminina a estimulava. Aliás, este é um tiro pela culatra que os programadores e agentes de marketing não esperavam naquela época. As personagens femininas nos jogos de luta, sempre coadjuvantes, tinham um efeito fetiche masculino quando surgiram, como a Chun-Li do Street Fighter 2, com suas pernas e quadris exagerados e a toda-musculosa Trhis Flare de Golden Axe.  Recordo-me que na época, foi a Sonya que me fez olhar mais pra loiras, pois antes eu eurtia japas, isto é, por isso me encantei pela minha esposa, mas deixa pra lá senão apanho em casa! Mas, acabaram as mulheres por se verem representadas nos games.

Os mano pira nos golpes das mina!
Capa do Virtua Fighter: Tá certo que o Akira tá na frente,
mas porque parece que só aparece a Sarah em destaque? 

Mas, claro, tinham aquelas heroínas que não tinham nenhum apelo sensual, e de propósito (talvez até pra ganhar algum respeito) eram bem discretas. E não eram heroínas masculinizadas como Ellen Ripley de Alien 3 (era mulher porque o jogo era baseado no filme). Era a geração de Alis de Phantasy Star,  Lucia de Psychic World, Goldmoon de Heroes of the Lance. A culpa recai por isso aos (adivinha?) japoneses.

"Tenho que zerar este jogo, ou vou desonrar minha família!"

A sociedade japonesa, que viveu séculos de profundo machismo, cada vez mais elaborou nas últimas décadas discursos (em filmes, comerciais, mangás e animes) feministas colocando personagens femininas como protagonistas. Nisto, Apple de Zillion surgiu e aparece num dos dois games pioneiros do console da Sega. E lá, as meninas começaram a jogar. 

Aqui no Brasil, quando encontrávamos nos anos 90, uma jogadora (geralmente, alguma fã do que chamamos hoje de "nerdices"), muitos ficavam loucos, mesmo não sendo linda a moça! Por que, nada melhor do que uma pessoa que além de trocar uns beijos, poderia conversar sobre games e coisas afins e não te olhar com cara de tédio quando se empolga... Eu mesmo, tive uma paquerinha que (pasmem!) era viciada no Kenseiden! Era mais nas capitais do Sul e Sudeste que víamos meninas nos fliperamas, elas não estavam lá para paquerar, mas para jogar mesmo!  No Brasil, a Tectoy pegou a idéia tarde: em 1995, para alavancar as vendas do Master que caíam lançou o Master System Girl com jogos da Mônica, se tivessem feito (sempre digo isso!) isso dois ou três anos antes, o resultado seria bem melhor.
Em 1995, percebendo o valor do público feminino,
a Tectoy lança o console com a marca da sua musa, a Mônica... 
"Como assim, ela é a musa do Master System?!
Eu ainda tenho a espada laconiana, sabia?"

Bem, é isso aí! Se segundo alguns, o mundo ficará melhor quando for mais feminino, imagina o mundo dos games. Bem, vamos ver se no final de semana ensino minha amada a jogar a Pequena Sereia. Fui!

P.S: O Leo listou no Top 5 As Super-Poderosas do Master, quem ainda não viu, confere lá! ;)



20 comentários:

  1. Rodrigo, meu amigo, que post maravilhoso!!! Você tocou em vários assuntos bacanas como os tipos de games que a mulherada gosta, as heroínas dos games e o fetichismo masculino em torno delas, meus parabéns! =D

    Um jogo que eu curtia com a minha irmã era o Bubble Bobble. É um jogo fofinho e fácil de jogar, e cooperativo. Ms Pac Man é outra boa pedida também. Já a minha namorada curte jogos de luta (desde que tenha lutadoras) e agora ela tá viciada no Angry Birds.

    E falando em lutadoras, eu pagava pau pra Chun-Li e para a Mai Shiranui. Também, uma tinha um belo par de pernas, enquanto a outra fica balançando a comissão de frente...é muita apelação rsrsrs

    Abração!

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    1. Valeu mesmo, Adinan!!!
      A idéia era essa: discutir a relação mulheres e games.Acho que faltou a Vampira do X-men, mas poucos jogaram...
      Minha mana gostava dos jogos da Disney e pretendo comprar um Ms Pac Man, não sei se minha namor-esposa topa jogar! rss
      Eu adorava as duas lutadoras, jogava com elas, e minha mana não entendia porque com tantos musculosos, eu jogava com mulher! Chun-Li e Mai Shiranui nem se conheciam mas eram rivais, seja nas preferencias masculinas mundiais (busto x quadril, rss), seja nas empresas que defendiam seus direitos autorais (Capcom x SNK). Foi no King of Fighters que resolveram mesmo exagerar a Mai, no Fatal Fury, ela já era "portentosa", mas algo mais discreto... E via no fliperama, os moleques brigando por qual era a mais gata! rss

      Abração!!

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  2. Muito bom esse post cara é uma pena ver que o machismo afastou durante anos as mulheres dos games e de nois mesmos mais ainda bem que isso vem mudando hoje em dia eu mesmo tenho duas amigas gamers e uma viciada em anime assim como eu que bom que os tempos estão mudando.

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    1. Brigado, hoje no Brasil a "definição de papéis" aliviou. Moças dirigem, pais beijam seu filhos, coisa impensada nos anos 80 pra trás. Tenho várias amigas, que curtem games, jogam RPG e animes, e isso só tornou mais divertido tudo.
      Abraço.

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  3. post interessante esse.

    na época era dura para as meninas, hoje em dia, aos poucos as garotas jogam mais games, participam de campeonatos e tem até seus blogs sobre games. e cara, gosto de ir com a Blaze...pelo menos para variar do Adam, não curto o Axel. e ao contrário de vocês, não pagava pau pela Chun-li e não pago até hoje. já pela May é diferente. esse post me lembrou quando jogava com uma prima chata o Mario Kart...

    e não entendi a ultima parte.


    "Como assim, ela é a musa do Master System?!
    Eu ainda tenho a espada laconiana, sabia?"

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    1. Hehehe! Foi um piada do que a Alis diria pra Mônica, como as duas disputando como a Musa do Master no Brasil. O blog da Bia Chun-Li é o melhor exemplo disso... Tenho amigas que são do tipo que não curtiam boneca e hoje jogam games melhor que muito marmanjo.
      Já o caso da Mai e da Chun-li... Apesar da Chun-Li ser a preferida pela maioria, a Mai fisicamente é mais realista em relação às japonesas de carne e osso (embora raríssimas). Já a Chun-Li é bem aquele caso dos orientais terem uma imagem de si diferente nos jogos e desenhos. A china parece mais uma morena brasileira do que uma mandarim! rss
      Abraços.

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  4. Muito bom post Devaneio hoje em dia ainda existe muito preconceito contra a mulherada que joga games conheço algumas umas delas é minha prima.Tem outras que conheço atraves de blogs de games e podcast mas sempre é bom saber que a mulherada está virando a mesa sobre isso ai .

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    1. Obrigado!
      a mulherada tem mais é que jogar, (não deixar de fazer outras coisas pra jogar!) e queria muito é que jogos para minas fossem mais produzidos. Tem aqueles lives action na net no Japão, com RPG's tipo comédia romantica, mas podia ter mais.
      Abraços.

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  5. Muito bom o texto! Engraçado que é verdade o que vc falou sobre personagens femininas chamarem a atenção das meninas, até aquelas que foram criadas pra chamar a atenção do público masculino. Vi acontecer muito!
    Alguns jogos chamavam a atenção delas também por serem bem coloridos, como por exemplo Wonder Boy. Muito embora esse também tenha a temática do "resgatar a menina". Esse jogo inclusive chamava a atenção pela jogabilidade mais simples em relação a outros jogos.
    Vc citou o encanador bigodudo, mas eu digo que o rival dele também fez sucesso com as meninas: Sonic the Hedgehog! Talvez por ter a jogabilidade simplificada e ser todo colorido também.
    Mas gostei bastante foi da história da sua irmã se identificando com as personagens e talz. Com a minha irmã não tive a mesma sorte, mas pelo menos durou um tempo. Adivinha só qual foi o último videogame que ela gostou na vida (antes de conhecer o Wii)... sim, ele mesmo, o glorioso console de 8 bits da SEGA! Mas quando troquei pelo Mega Drive, perdi a parceira de jogatina.
    E cuidado com esse negócio de loiras aí, vai acabar apanhando em casa (ri muito disso! hahaha).
    Abraço

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    1. Caduco, valeu!
      Vejo elas reclamando do "exagero" das personagens, igual aquele de luta que só são mulheres, mas assim elas são aproximadas. O Sonic realmente minha mana também gostava muito. Minha mana até jogava às vezes o Playstation com o maridão dela, mas desinteressou porque o Master era mais simples...
      E quanto a este assunto, minha loirona que vale por três (vale por 3 se quiser me bater!) acho que tem mais cisma com japas do que com outras loiras! hahaha Abraços.

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  6. Rapaz, garotas e games é um tema que cada vez mais vem se misturando né! Realmente o estigma machista ds games predominava em épocas mais remotas, e agora não é que os papéis estejam se invertendo, pois nem mesmo estão se igualando: o que acontece é uma maior valorização do personagem e do mercado feminino de games a partir da quebra de tabus que foram as aparições das primeiras heroínas dos games, como Alis, Samus e Blaze.
    Hoje além de jogos, temos consoles em versões de cores "fofas" e deseinhos personalizados totalmente voltados ao publico feminino, e isso existe por que vende! XD

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    1. Sim, Sabat, inverter é só forma de dizer, o correto é igualar...
      Claro que o negócio tá ficando melhor pra elas (só porque viram $$$ como investimento, não por qualquer "democracia dos games") Quando larguei o mundo dos games, a musa já era a Lara Croft, mas agora que voltei, to besta que ainda não esqueceram Chun-Li, Mai e Sonya.
      Abraço.

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  7. Não acho que o mundo tem que ser mais cor de rosa e nem os games, eu rezo para que não aconteça aliás! Jogo videogame desde muito pequena, comecei com Atari, aprendi inglês com RPGs e sempre tive gosto por magia, espadas, lutas, etc. Personagens femininos sempre me agradavam sim, mas não porque sentia uma necessidade, mas porque elas eram sim muito mais bonitas e fofinhas. Até hoje eu jogo geralmente com personagens femininos quando o jogo é de luta, mas isso porque eu acho nojento e horroroso aquele monte de músculos suados e sem camisa... eca! Acho que os jogos estão aí para quem quiser jogar, e nunca o público foi só masculino. Mas é meio óbvio que raramente vocês, homens e garotos, só conheciam amigos homens que jogavam.... afinal, existia o clube do bolinha e o clube da luluzinha ne? Já eu, desde muito criança, sempre joguei muito videogame com amigas, em todas as épocas de minha vida. Sempre joguei com meus irmãos e primos, sempre joguei com meus amigos. Nunca presenciei preconceito ou um "ohmeudeus!elajogacasacomigo". Pra mim todos somos iguais, não existe isso de meninas precisam de jogos de meninas, meninos precisam aceitar jogar hello kitty. Eu vou continuar preferindo os jogos que sempre existiram (luta, espadas, RPGs, shooters) e provavelmente não terei a minima vontade de jogar os "jogos cor de rosa".

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    1. Eba! Uma moça comentou!!
      Vamos lá:
      Quando digo que o mundo tem que ser mais cor-de-rosa, não digo de fru-frus e meiguice, digo de mais participação feminina. Nunca vi preconceito, apenas um certo desinteresse ou afastamento das moças, quando elas desde pequenas estão acostumadas a jogar (especialmente a geração Atari)com irmãos e primos, bem, vira uma gamer em potencial, mas não é um público tão grande quanto os meninos. Lembro bem que Jogos muito "dark", ou sanguinários afastavam as moças, com certas exceções, hoje com a geração que usa caveira com lacinho, essa barreira diminuiu...
      E também não precisa ser jogos "específicos", mas numa visão sociológica, aconteceu no início com os games, o mesmo com os empregos "de rua": as moças se adaptaram a eles, e não o oposto, entende? =)
      Mas tudo muito bem observado, viu? Obrigado pelo comentário! =)

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  8. Muito bom esse post Rodrigão, gostei muito, parabéns!
    Pena que minha irmã nunca jogou comigo, ela gostava de sentar do meu lado, assistir e torcer. Já minha esposa nem isso... é, dei azar com as mulheres no quesito videogame, rs. Abração!

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    1. hehehehe Que bom!
      Mas mesmo com minhas irmãs e amigas, acho uma pena que minha amada não curta comigo os games, mas bem sou tão ligado nela que se tivesse ISSO também em sintonia seria até demais....
      Abraços.

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  9. Muito da hora, quem sabe um dia as gurias se dedicam mais aos videogames (clássicos, de preferência) em vez de perderem tempo com coisas sem noção como (eca) pagode.

    Tenho dito

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  10. Muito bom o post! E bem real.
    Eu sempre dava preferência a jogos com personagens mulheres! Jogos de luta então, SÓ com mulher hehe meu time de kof até hoje permance o mesmo: mai, athena e yuri.

    Eu nunca via graça naqueles jogos escurões, com caras fortes matando monstros D: preferia jogos mais coloridos como sonic, castle of illusion, alex kidd... E acho que toda menina naquela idade era assim hehe

    Adorei o blog, continuem com esse bom trabalho!

    Abraços
    Maria Clara

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    1. Obrigado pelos elogios, Maria Clara.
      Esse post é pra vocês, acho legal é ter a diversidade,gostos diferentes, jogos diferentes, antes o mercado só caía pra um público, investiam mesmo no masculino, só depois pensaram em representar o feminino, hoje sinto uma diversidade maior e melhor.
      Até mais! =)

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