Terminei de ler o livro "Console Wars: Sega, Nintendo, and the Battle that Defined a Generation", de Blake J. Harris. Esse livro fez um certo barulho quando foi anunciado, e não era para menos, afinal a idéia é justamente narrar a mais emocionante guerra de consoles na história dos games, tida por muitos até hoje como a era de ouro dos consoles: a guerra entre SEGA e Nintendo nos 16-bits. E no mês passado, exatamente no dia 13 de Maio, o livro foi lançado na Amazon e nas lojas digitais (iTunes e Google Play).
Mas aí você me pergunta: e aí Adinan, o livro é bom, vale a pena comprar? Bom, depende muito do que você está esperando com este livro. Assim resolvi escrever um pouco sobre as minhas impressões sobre esse livro.
Baseado em fatos reais
Antes de sair comprando feliz da vida, recomendo que baixe e leia a amostra, disponível nas lojas virtuais. A versão que eu li foi a do Google Play, direto no meu celular, e já no prefácio o autor deixa bem claro a forma como o livro foi escrito. Vale a pena destacar a seguinte nota do autor:
"In certain situations, details of settings and description have been altered, reconstructed, or imagined. Additionally, most of the dialogue in this book has been re-created based on source recollections of content, premise and tone."
Ou seja, o livro consiste em uma narrativa baseada em fatos reais. Em alguns casos os diálogos e alguns detalhes foram reconstruídos para o bem da narrativa. Esse foi um ponto que fez muito leitor torcer o nariz para este livro, pois muitos esperavam algo mais fiel a realidade como no caso de outros livros do gênero, exemplo do "Game Over" de David Sheff e o "The Ultimate History of Video Games: From Pong to Pokemon" de Steven Kent. Mas sinceramente, não acho que isso seja motivo para desdenhar o livro. Gostei bastante da forma como a narrativa foi feita, cada página te faz viajar para aquele tempo, e você se sente dentro da SEGA of America, passeando pelos stands das CES. Lá pelo final do livro era como se eu estivesse sentado ao lado de Tom Kalinske e sua turma assistindo a primeira E3, na apresentação do Playstation ao mundo ocidental.
Essa forma de narrativa ficou perfeita para transformar o livro em um filme, e é exatamente isso que está acontecendo neste exato momento. Dois filmes estão sendo preparados, um documentário e uma versão encenada do livro.
Tom Kalinske - A new warrior has entered the ring
O livro narra toda a guerra da SEGA contra a Nintendo, desde o seu início no final dos anos 80 com o lançamento do Genesis (Mega Drive) nos Estados Unidos até 1996, quando o Super Nintendo havia finalmente vencido a guerra e a Sony esmagava a SEGA com o seu recém-lançado Playstation.
Toda essa história é contada visando o mercado norte-americano de videogames, do ponto de vista de Thomas Kalinske, o lendário CEO da SEGA of America (SOA). Lá pelos meados de 1990 Kalinske foi convidado por Hayao Nakayama, CEO da SEGA do Japão (SOJ), para ser o novo CEO da filial norte-americana. Kalinske não estava muito seguro, mas após visitar o setor de desenvolvimento da SEGA e ver maravilhas como o Game Gear, os óculos 3D do Master e o todo poderoso Mega Drive, Kalinske topa o desafio.
Assim o livro conta como Kalinske e sua equipe formada por Al Nilsen, Shinobu Toyoda, Paul Rioux, Diane Fornasier, Ellen Beth Van Buskirk e outros excelentes e dedicados colaboradores conseguiram evoluir a SOA que tinha apenas 5% do mercado de videogames na América do Norte, sendo que 90% era todo da Nintendo of America. Em 1993, essa talentosa equipe conseguiu a façanha de adquirir a bela fatia de 55% do mercado, humilhando a casa do Mario no processo.
Percorrendo os capítulos, conhecemos a Nintendo comandada por Minoru Arakawa e Howard Lincoln, que pouco se importava com o barulho da rival, mas quando perceberam que aquele barulhinho estava surtindo efeito, já era tarde. Mas infelizmente, o maior inimigo da SEGA era ela mesma, ou melhor, a SOJ, que em sua arrogância procurava boicotar os planos de Kalinske e equipe, até que enfim conseguiram tomar controle da SOA, destruindo tudo o que Kalinske construiu e prejudicando a empresa de tal forma que as consequências estão presentes nos dias atuais com a triste situação da SEGA fora do mercado de hardware.
Vale lembrar que o livro, embora tenha mais foco na SEGA e no mercado norte-americano, também menciona algumas curiosidades sobre as rivais e o cenário mundial dos games, como a tentativa da Sony em entrar no mercado de videogames através de parcerias frustradas com a Nintendo e a SEGA, o fiasco do filme de Super Mario Bros, a preferência do mercado europeu por PCs ao invés de consoles, e talvez o melhor de todos os fatos: a parceria entre a SOA e a Silicon Graphics (SGI) para a produção de um console next-gen. Essa parceria acabou frustrada pela arrogante SOJ, e no final das contas a tecnologia desenvolvida pela SGI foi adotada pela Nintendo como base para o Nintendo 64!
E para quem acha que o livro pode ter sido tendencioso em retratar a SEGA Japonesa como a grande vilã do livro, mesmo em outros artigos nota-se que infelizmente a administração da SEGA no Japão era extremamente arrogante, incapaz de aceitar que suas filiais tenham idéias melhores e maior sucesso do que ela. Temos um caso bem parecido aqui no Brasil com a própria Tec Toy.
Na entrevista do Stefano Arnhold feita pela UOL Jogos, o mesmo conta que na época do Master System Compact, eles tiveram a idéia de colocar a fonte dentro do console, o que gerou protestos da SEGA no Japão, alegando que poderia queimar o aparelho, entre outras desculpas. Mesmo assim a Tec Toy resolve seguir em frente alegando redução de custos e a idéia deu certo. Mais pra frente o SEGA Saturn veio com a fonte interna, e a SOJ obviamente nunca admitiu que tenham se inspirado na solução tomada pela Tec Toy.
Vale a viagem ao passado
Se você está esperando um documentário ou algo mais fiel possível a realidade, talvez seja mais interessante procurar outros livros do gênero, mas se você quer ter uma idéia de como foi a guerra mais amada pelos gamers, através de uma excelente narrativa com uma ótima capacidade de imersão, vale a pena comprar "Console Wars" sem medo! Como eu escrevi no início do post, o livro está disponível na Amazon, no iTunes e no Google Play.
E é isso galera, aproveitando a deixa de que lado vocês se posicionaram nos 16-bits? Quais lembranças saudosas vocês possuem dessa época de ouro? Nos deixe saber pelos comentários!
Abraços e até o próximo post! :)
Não vou ser desonesto com vc, eu preferia que fosse algo mais focado na realidade mesmo, e não com alterações para o bem da humanidade ou sei lá quem... hehehe.
ResponderExcluirAinda assim, acho que vou abrir a mente aqui e ler o livro. Creio que tenha bastante coisa que eu não saiba que é interessante saber. Afinal, estávamos lá como soldados dessa guerra, defendendo lado azul ou vermelho nos colégios e nas ruas, e depois entrando na casa do amigo pra jogar o videogame do rival e se divertir do mesmo jeito! hahahaha!
Ótima dica, nem sabia que tinha de fato saído e nem que tinha amostra disponível, vou correr atrás aqui!
Valeu!
Pois é Cadu, não chega a ser algo extremamente fantasioso mas sim tem muita coisa criada no meio. Eu gostei porque deixou a narrativa emocionante em diversas ocasiões, e acredito que a idéia era criar algo que fosse adaptável para filme, mas sem dúvida seria bacana ter algo mais focado na realidade dos fatos, sem especular diálogos e situações. Mas sim tem fatos bem interessantes que nem ficamos sabendo, como a polêmica do Minoru Arakawa comprar um time de Baseball de Seattle, para salvar o time e agradecer a cidade por terem acolhido ele, mas que foi interpretado como uma tentativa dos japoneses de conquistarem os Estados Unidos aos poucos, é uma viagem mas teve esse preconceito contra os japoneses nessa época devido a economia sendo prejudicada pelos japoneses e td mais.
ExcluirRecomendo ler a amostra que tem no Google Play, assim você tem o capítulo da contratação de Kalinske e por alí você tem uma idéia de como será o restante do livro.
Ah é sempre bom lembrar dessa nossa época de soldados azuis e vermelhos, bons tempos que eu defendia o SNES com unhas e dentes mas vibrava com os jogos do Mega. Quando adquiri meu Mega Drive há alguns anos atrás me senti criança novamente, revivendo aquela geração dourada!
Abraços :)
Bons tempos esses hein que tinha essa grande rivalidade entre eles sou desse tempo e curtia muito isso principalmente em tempos de escola. Sempre alguem mencionava que seu videogame era melhor que o do outro por causa dos jogos mas ai será que tem alguma editora brasileira que tem interesse em publicar esse livro por aqui gostaria muito de ter em minhas mãos.
ResponderExcluirEntão Rock tô na torcida para que alguma editora localize esse livro. Recentemente localizaram um livro da história do Super Mario, mas não é um livro muito bom, mas vamos ver espero que este seja localizado e já tô no aguardo pelo filme! :D
ExcluirAh pode crer se tem algo que eu amo é recordar esse tempo dourado da rivalidade. Vivia defendendo o SNES na escola destacando o Donkey Kong, os Mega Man X e outros exclusivos. Sempre fui mais o SNES mas amava em segredo o Mega e só depois de adquirir um Mega Drive me senti um gamer completo!
Abraços
Excelente análise Adinan, eu que já tava louco pra ler, fiquei mais ansioso ainda. Eu comprei pela Amazon, não sei pq lá tinha duas opção de compra, uma a pronta entrega no valor de 26 dilmas, e outro por 22 dilmas que vai ser entregue apenas dia 13 agora (sendo que tá em promoção o valor desse é 32 reais). Optei pelo segundo que muda o titulo, ao invés de Console Wars: Sega, Nintendo, and the Battle that Defined a Generation, tem um versus e fica Console Wars: Sega Vs Nintendo - and the Battle that Defined a Generation. Não sei o pq da diferença, mas esse que comprei deve baixar automaticamente no meu Kindle sexta feira que vem. Dai mergulho na leitura. Sabe que sempre fui Seguista, mesmo que eu goste muito da Nintendo também... =D
ResponderExcluirOpa aí sim Leo! Pois é tambem não entendi a diferença, e pra piorar no site do livro não falam nada sobre essa diferença...mas enfim o importante é que dia 13 você vai mergulhar nesse livro, tá muito bom!
ExcluirEntão eu sou um caso complicado, fui Seguista na época do Master e Nintendista na época do SNES, mas em ambas as épocas eu sempre babava pra concorrência. Hoje com o Mega me sinto completo como gamer, mas no geral acho que escolhi o lado certo na época :)
Abraços