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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Master Review - Ultima IV: Quest of Avatar (1990)



Saudações nação Master! É hora de falarmos de outro RPG do Master System, com qualidades únicas para o sistema mestre. Para deixar até Paulo Coelho no chinelo. Vamos em uma busca espiritual com o RPG Ultima IV: Quest of Avatar!




OS ÚLTIMOS SERÃO OS PRIMEIROS
A minha impressão inicial quando vi a capa foi de muitos jogadores, ou era algum tipo de jogo bíblico ou uma variante do Populous. Para quem não sabe, a série Ultima, criada por Richard Garriot, foi uma sequencia de RPGs ambientada no mundo de Sosaria para PC's.  A versão Master System está situada no quarto (e melhor) capítulo da série. Após a terrível batalha de Ultima III, contra Mondain, Minax, e Exodus, as terras de Sosaria foram devastadas. Eis que se levanta um novo soberano, Lord British, e rebatiza Sosaria como Britannia, e para restaurar a paz e a hamonia convoca um campeão terráqueo (The Stranger). 
Seu destino é tornar-se um Avatar (não, o mundo aqui não é Pandora), um campeão das virtudes a servir de exemplo para todo o povo, que tinham as almas devastadas depois de tantas misérias. Para isso ele deve reunir uma conclave com outros heróis, muitos deles de jogos anteriores como Shamino, Iolo e Dupre. Eles então os seguiriam em sua busca pelo Avatar e a perfeição nas oito virtudes e irão com ele até o Grande Abismo do Estiges (The Great Stygian Abyss) a fim de ler o Codex Sagrado, retirá-lo dali e se tornar o Avatar!


Que descrição épica não é verdade? Pois bem, quando liguei o jogo (e não manjava quase nada de inglês) estranhei pacas parecia que estava vendo algo meio "Eram os deuses Astronautas" e vi um troço igual uma nave deixando um obelisco igual Stonehenge. Viajei quando vi uma feira de parquinho e uma cigana leu minha mão, fazendo perguntas sobre cartas, e no final tava num mundo medieval. Sim, é algo meio Caverna do Dragão.

GRÁFICOS E SONS
Vamos ser diretos quanto à aparência do jogo. Quando aluguei nos anos 90, pensei em devolver logo quando liguei o jogo.  Mas vamos ser justos hoje, o jogo é um port de um clássico de 1985 pra PC's e teve muito aprimoramento em relação ao gráfico original. Os sprites são muito pequenos (sinto isso mesmo na 40 polegadas) mas seria inviável num jogo com um mundo tão grande e sendo mais importante a imaginação  que as batalhas (guarde este detalhe). Já os sons, as trilhas são perfeitas para o ambiente celta que o jogo quer passar. As trilhas sonoras te fazem pensar que você está na Irlanda ou na Bretanha do Rei Arthur, afinal é a Britannia que você está.


Dica: Compre SEMPRE comida ou você morre de fome, e pare pra
descansar quando viajar. Comprar transporte também é útil.
 O ULTIMO MESTRE DO AR...
O que mais gostei em Ultima IV é... por onde começo? Temos centenas de jogos no emulador e na coleção, então não dá pra aprofundar muito especialmente RPG's. Primeiro é a ambientação celta do Game, o que nos levaria para o jogo de mesa da época Advanced Dungeons & Dragons. Mas Ultima IV caminha para um RPG mais abstrato, além do que AD&D  (e muitos jogos de RPGs eletrônicos) era acusado de ser resumido: "mate o monstro e pegue o tesouro". Eu estava jogando quando ouvi aqui em casa: "Quem é o vilão?" A idéia aqui é uma busca espiritual e controle de ações, no molde que alguns RPGs ensaiariam como Story Teller, quando você busca controlar seu eu humano. 

Você deve buscar trabalhar 8 virtudes: Honestidade, Compaixão, Valor, Justiça, Sacrifício, Honra, Espiritualidade e Humildade. Eles funcionam por princípios como Verdade, Coragem e Amor. Existem Santuários para cada virtude e eles são abertos quando você encontra as Runas de cada virtude com a opção Search. Para isso deve conversar e muito com as pessoas.

CONHECE A TI MESMO
E quem é o personagem? Esse é o mais interessante: Lembra da cigana no início do jogo? As cartas são sobre as 8 virtudes e a partir das suas respostas, você escolhe sua classe de personagem. Sim, tem os macetinhos pra escolher aquela classe, mas é mais legal deixar rolar suas respostas naturalmente. As classes já manjadas são Mago e Guerreiro. Como variantes inspiradas em AD&D temos Bardos, Paladinos e Rangers.  A classe sacerdotal por ser um ambiente celta é a dos Druidas. Mas as classes inovadoras são os Tinkers (Ferreiros) e Shepards (Pastores). Antes que alguém pergunte, não há Ladrão, pois afinal, o Avatar deve ser virtuoso. Outra surpresa é que você nem começa na mesma cidade, o que dá uma sensação de liberdade gigantesca.

Como fazem os Mestres rigorosos de RPGs fantásticos, você deve comprar Reagents em lojas de magia, algumas delas escondidas e mixa-las para executar as 26 Magias do Grimório. 
O fantástico é sensação de "Tudo posso nem tudo me convém" que o jogo permite, coisa que gostaria muito que houvesse em outros jogos. Para se ter uma ideia, eu por engano, roubei um baú que tinha dono em Moonglow (a cidade em que as pessoas são mais honestas), arrumei um problemão. 

Divertido também é a referência celta/bretã em todo o jogo, encontrei Little John, Shakespeare, Cronwell e até Merlin da História inglesa e como há um sistema de gatilho para conseguir as informações que quer, caí na gargalhada quando conversei com guerreiros bêbados, uma mulher louca dizendo que ela que movia o Sol, e uma pessoa me perguntou de que mundo eu vim, e tinha nas opções "Krypton"...    

Se você morrer, não tema: Você não parou no Inferno,
Lord British o ressuscitou para voltar à sua Quest!
MULTIMÍDIA NO PAPEL
O nível de integração de você com o jogo cresce na medida que o próprio manual do jogo incluía um Livro do Cenário de Britannia, Um Livro de Magia e o Mapa. Como nos livros de Tolkien, o mapa era escrito em Runas celtas (e o alfabeto celta vinha no manual tradicional do cartucho). O livro não é indispensável, mas era lindo e você com certeza, leva mais a sério o joguinho entendendo ele num apanhado só. Você ficará fascinado com a complexidade deste jogo quando tiver que calcular qual fase da Lua (que aparece na tela) abre o portão dimensional, ou quais mares dá pro seu barco navegar ou não. Foi delirante quando eu por um acaso fui atacado por piratas e acabei ficando com barco deles, eu que não tinha nenhum! Perguntei pela saúde de uma mulher e do nada ela tocou no ponto que eu precisava pra me dar a informação de um aliado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos elogiam Ultima IV, mas poucos no Brasil realmente o desbravaram. Meu conselho é voltar e rever este jogo clássico, talvez agora, com um pouco mais de experiência. Até para facilitar que tal habilitarmos o manual, o mapa e um guide de quebra? Quem sabe você se maravilha como eu com a redescoberta? Ultima IV tem a proposta de no final o jogador aprender algo com o jogo. Quem sabe é a oportunidade de você encontrar um novo conceito do que é ser alguém do Bem?




2 comentários:

  1. Olá, Rodrigão!
    Tudo bem?
    Confesso que sou um dos que nunca jogaram Ultima IV. Na época, não chegou até mim e, mesmo nos tempos de emuladores, não me senti atraído. Para ser sincero, nem me lembrava dele.
    Lendo o review, fiquei surpreso pelo tanto de informações que é possível usufruir neste jogo, em apenas 4 megas de um cartucho de Master System. Até parece alguns dos RPGs atuais onde seu alinhamento e escolhas mudam o rumo da trama.
    Sabemos que essas opções em games antigos eram bem limitadas a ponto de não te dar liberdade, uma vez que, a trajetória já está pré-estabelecida: Fuçou e achou o que queria? O jogo te libera daquele ponto em questão.
    Em todo o caso, este é mais uma prova da mágica que os programadores de ontém conseguiam operar com tão pouco recurso em mãos.
    Abraço.

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    Respostas
    1. Salve Douglas!
      O segredo deste jogo é que desde os tempos do PC Engine, ele sacrificou o gráfico em nome do mundo do jogo, entende?
      A sensação de liberdade é muito grande, você pode roubar, matar inocentes e até trapacear, mas deve arcar com as consequências, coisa que muito RPGista de hoje, mestres principalmente, deveria experimentar.
      Temos a sensação de realmente engajar uma conversa, pois só quando vc escolhe falar de certos assuntos, eles engrenam em outros.
      Parece sacrilégio, mas é até agora o RPG mais interativo do Master System na minha opinião.
      Merece uma partida.
      Abraço.

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