Páginas

domingo, 19 de janeiro de 2025

Especial Revistas - Videogame Nº 2 (Fev/Mar - 1991)

Olá, Master Amigos!

Tudo bem com vocês?

Hoje, farei algo um pouco diferente dos reviews tradicionais. Na verdade, será como uma resenha sobre uma revista, no caso, a segunda edição da Videogame, publicada entre fevereiro e março de 1991.

Vamos fazer essa viagem no tempo? “Boralá”, então!

Era outro mundo – Primeiro, é necessário deixar claro, aqueles eram tempos muito diferentes. Não havia internet, smatphones ou jogatinas online. Em linhas gerais, o rítmo de vida era “menos acelerado”. No que se refere à mídia, éramos praticamente passivos, em relação, ao acesso à informação e tínhamos poucos meios disponíveis. Exemplo... muitas vezes, só sabíamos que um filme tinha sido feito, quando ele estava em cartaz nos cinemas, ainda assim, meses depois de seu lançamento oficial. Com os jogos de videogame, a situação se repetia.

Em nosso país, houve uma medida governamental com relação à produtos de informática (só para permanecer no mérito do texto), chamada de  Reserva de Mercado. Era a restrição à entrada de importados, sob a alegação, de proteger nossa indústria. Assim, esses mesmos produtos, precisavam ser produzidos em nosso país.

Sem entrar em detalhes, para não me alongar demais, isto nos atrasou bastante tecnologicamente. Enquanto estávamos alucinados no Atari e seus clones, nos Estados Unidos e Japão, Nintendo, Master System, entre outros, eram as estrelas da vez.

Este período, especialmente no Brasil, foi bem curioso e vale a pena dar uma pesquisada. Tem documentários completos no You Tube sobre esses assuntos.

Publicações especializadas – Elas já existiam. Sempre houve demandas de variados segmentos como os de automóveis, cinema, moda, comportamento, televisão, a lista segue. Mas, e sobre a nova onda que acabava de aportar em terras brazucas, a Terceira Geração de Videogames? Elas, não tardaram a surgir.

Nos anos 80, havia revistas que abordavam o mundo dos computadores e, por tabela, os jogos que rodavam nessas máquinas. Tinha ainda, as dedicadas ao Atari. Entretanto, esse panorama, mudaria radicalmente no ínicio da década de 90.

A primeira, saiu por meio da esportiva A Semana em Ação, que soltou uma edição batizada de A Semana em Ação – Especial Games. Foram duas e, uma delas, tem a famosa entrevista com um jovem Rubens Barrichello, encarando o Super Monaco GP do Mega Drive. Com o sucesso, ganhou vôo próprio, virando a conhecida Ação Games.

Naquele mesmo final de 1990, surgia a Videogame. Uma derivação de outra publicação maior, a Video News (especializada em cinema), também alcançou sucesso editorial. O mercado estava ávido por notícias e todas vendiam muito bem. A concorrência entre elas, nos brindou, com materiais bem bacanas, cada uma, com suas características marcantes.

A Videogame – Em seu primeiro ano, era a minha preferida. Seu caráter didático, explicava direitinho, os porquês daquele universo fascinante que acabara de chegar. A linguagem acessível, se fazia compreender, até para jovens completamente leigos sobre o assunto. Questões como compatibilidade entre sistemas; diferenças entre máquinas de arcade e consoles caseiros (bem como, suas capacidades); novas tecnologias (como a chegada do CD-ROM), eram presenças constantes em suas páginas.

Outra coisa em que foi pioneira, foi separar as páginas por sistemas e fazer “mapinhas” com as telas dos jogos, realizando, um detonado completo. Sem falar na façanha, de se fazer aquilo tudo, em tempos “pré-Photoshop”.

A edição nº 2 – Como a revista não possui data em seu expediente, as únicas informações que tive acesso, foram minhas próprias lembranças, a sessão de recordes dos leitores (cuja fonte, consta como “Tec Toy – Fevereiro de 91”) e a matéria sobre o Neo Geo (com a cotação do dólar naquele mês). Como trabalhei na área, posso supôr que, se a revista saiu no mesmo mês de fevereiro, incluir informações básicas com estas, são possíveis de serem inseridas em cima da hora, no conhecido “Dead Line”. Então, dando uma margem de segurança mais elástica, “chuto” que tenha chegado às bancas no início de março.

Aliás, acho curioso, como alguns editores não se preocupavam em datar o material impresso. Talvez, não se deram conta, da importância de preservar esses registros para as novas gerações. Imaginem, como seria o mundo hoje, se os antigos não preservassem sua história. Pior ainda... vai que, aconteça uma “hecatombe nuclear”, com a maior parte humanidade sendo dizimada e a tecnologia se perca? Neste cenário catastrófico, a Internet não existirá e, os registros físicos, terão mais chances de sobreviverem. Tá certo... sei que peguei pesado mas, quis dar uma noção, da importância de sabermos a origem de um texto produzido.

Voltando à esta edição em si...

Logo ao abrirmos, damos de cara, com um anúncio em página dupla da loja Dimensão. Assim como outras empresas do setor, divulgava massivamente nestas publicações. Sempre chamativas, chegava a “dar água na boca” ver que já tinham os principais lançamentos, aqueles que estavam sendo avaliados nestas mesmas revistas.

O primeiro seguimento, era dedicado à matérias diversas, promoções e cartas do leitor. O destaque, vai para o recém lançado Neo Geo. Ele havia sido citado na edição anterior mas, aqui, foi melhor detalhado. Ter jogos de até 330 megas, quando achávamos 4 um absurdo de potência, foi de chocar. Mostrou-se ainda, ter o recurso do Memory Card, que só se tornou popular, à partir da geração 32 bits, com o Playstation.

Com certeza, foi um console à frente de seu tempo e, como sabemos, isto tem um preço: “O único fator que pode esfriar os ânimos de muita gente é o preço. Em fevereiro, um console acompanhado de um cartucho, não saía por menos de 1.500 dólares” (trecho original). Se “mil e quinhetas pilas” é caro pra cacete hoje, imagina, em 1991? No meu caso, só vi um de perto, ano passado na Games Collection Show (feira mensal, realizada no bairro do Jabaquara, em São Paulo... tem texto aqui no blog).  

Há alguns poucos anos, houve uma “explosão” com a tecnologia 3D nos cinemas, muito alavancada, com o sucesso de Avatar do diretor James Cameron. Essa tecnologia, também chegou aos lares com TVs super modernas e seus óculos especiais. Muitos dos mais novos, talvez nem façam idéia mas, os videogames, já contavam com aparato similar. Entitulada Terceira Dimensão, o texto da página 10, explica como é a experiência de se usar tal periférico e as diferenças entre os métodos adotados no Nintendo e no Master System. Embora, fosse uma novidade interessante, a matéria pode ter desencorajado bastante gente à fazer uso deste recurso: “Outro ponto que ficou claro durante o teste é que, os óculos dos sistemas, acabam cansando a vista dos jogadores (...)” (Trecho original). Parece que, trinta anos depois, as coisas não mudaram muito... esses óculos, ainda cansam.

Também tivemos Os Minis, falando sobre as opções de portáteis. Se, nos dias atuais, qualquer smartphone, oferece uma infinidade de opções num único aparelho que cabe no bolso, no passado, as coisas eram mais complicadas. Para cada atividade pretendida, era necessário, um aparelho específico. Tinha os famosos Game Boy, Game Gear e aqueles “mini-games” da Tectoy com tela LCD monocromáticas. Modelos similares, podiam ser encontrados aos montes nos camelôs, vindos, nas muambas de quem ia no Paraguai fazer compras.

Duas curiosidades históricas. O rolo entre a Nintendo e a Sony - quando se tentou acordo para a produção de uma unidade CD-Rom para o Super NES – é conhecido por muita gente. Então... os boatos disto, começaram à circular em 1991, como podemos ver na nota Jogos em Laser.

A outra, é sobre a cerco que a Tectoy fez em cima das locadoras para não trabalharem com cartuchos “importados” (os “piratinhas” que fizeram a alegria da molecada). Na página 13, há um comunicado da Dimensão, dizendo, que passaria à adotar somente os cartuchos oficias daquela empresa. Ainda fez um apelo às outras locadoras, para que fizessem o mesmo: “A Dimensão está certa de poder contar com a colaboração de outras locadoras nesta fase de preparação para um novo mercado (...)” (Trecho original).

Para fechar as edições, nas páginas finais, eram comentadas questões técnicas. Neste número em específico, ensinaram como se ligava videogames em video-cassetes, sendo possível, gravar seus jogos. Olhando pela ótica atual, chega ser risível, tamanha atenção para algo que parece simples. Porém, era o que havia de mais sofisticado em termos de equipamentos eletrônicos: “Aquela luta fantástica contra o chefão da última fase, o recorde de pontos daquele jogo superdifícil ou mesmo aquela estratégia para ser mostrada para seus amigos, pode ser gravada em fitas de video-cassete (...)” (trecho original).

Com certeza, eram tempos muito mais inocentes.

Tá, Douglas... e os jogos? – Como evidenciado na capa, Mega Man 3, é o grande destaque da edição. Esse jogaço da Capcom (para muitos, o melhor da linha clássica) ganhou duas páginas de review, abrindo, a sessão Nintendo. O que dá para notar, vendo tudo “do futuro”, é o caráter mais informal (ou experimental) na forma de escrever. Não se mencionava aspectos técnicos dos jogos, pelo menos, não da forma como vemos hoje. Havia uma cotação de 1 a 5 pontos em Dificuldade, Gráficos, Musicas/Efeitos e Classificação; um resumo introdutório com informações básicas sobre a personagem, inimigos; e o que fazer durante as fases: Shadow Man – Ele será vencido facilmente, se você usar a arma de Top Man (Select – TO). Basta acertá-lo para passar desta fase (foto 4)” (trecho original).

Outros games que receberam tratamento de destaque foram Castlevania 3 – Dracula’s Curse; Teenage Mutant Ninja Turtles 2 – The Arcade Game (Nintendo), Kenseiden e E-SWAT (Master System). Um detalhe a comentar... no review em página dupla de E-SWAT, a última foto, nos entregou um spoiler do final do game. Lembro de jogar e, me perguntar, onde estava aquela imagem. Menos mal que, o encerramento, vai além daquilo.

Quanto ao Mega Drive, que havia sido lançado no Brasil há pouco tempo, não recebeu tratamento maior por parte da revista. Foram apenas oito “micro reviews”, os de Alex Kidd in the Enchanted Castle, Thunder Force II, Ghouls’ n Ghosts, Last Battle, Super Hang-On, Zoom, Moonwalker e The Revenge of Shinobi. Estes, eram os títulos disponíveis no Brasil até então, em um console, que ainda não tinha se popularizado da forma como aconteceu posteriormente.

E o Atari, console que reinava na geração anterior, não foi esquecido pela Videogame. Ainda tendo uma base enorme de fãs no Brasil, ganhou uma página e meia de pequenos reviews. Entretanto, seguindo o curso natural do mercado, esse sistema parou de ser abordado nas edições seguintes.

Continue: Yes or No? – Futuramente, pretendo escrever mais textos sobre outras revistas de meu acervo pessoal. Assim, será como uma espécie de “Raio-X”, de como essas publicações evoluíram ao longo dos anos que reinaram absolutas. As editoras se esforçaram bastante para, nos trazer, tudo o mais “quentinho” possível, produzindo material de qualidade, cada qual, à sua maneira.

No nosso mundo moderno, tão veloz, penso que seja difícil o jovem entender certas situações que ocorriam no passado. Como explicar, algo, que não pode ser mais experimentado? Deve ser surreal, imaginar, como é esperar um mês inteiro para saber uma novidade. Mais ainda, que tal novidade, era para nós brasileiros somente pois, os gringos, já se esbaldavam com elas. Ainda bem que, esta defasagem, foi sendo atenuada com o passar do tempo e, chegamos a ter, muitos lançamentos que acompanharam de perto o mercado internacional. Hoje, isto é bem comum dada a globalização mas, nos idos anos 80 e 90, era algo impensável.

Seja como for, estas publicações, tiveram papel fundamental na formação de uma geração inteira de leitores. Não por acaso, por influência delas, surgiram muitos profissionais em áreas relacionadas à games, assim como, no mercado editorial e jornalístico como um todo (como este que vos escreve).

Sei que o texto ficou longo mas, achei por bem, contextualizar aquele período para melhor compreensão. Espero, ter sido bem sucedido.

Até mais!









Nenhum comentário:

Postar um comentário